O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas
Essas e o que faz falta nelas eternamente ;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
Cansaço, ora nem mais.
Quanto mais sonhamos alcançar menos está ao nosso alcance. Tudo aquilo que desejamos e finalmente "agarramos", mais cedo ou mais tarde acaba por nos escapar entre os dedos. Sem que possamos fazer nada. Por mais que tentemos já foi... já não volta.
Ou será que volta?
Talvez um dia... talvez nesse dia volte a ser o que era, ou volte a ser sem necessariamente voltar ao que era. Quem sabe melhor ou pior, desde que volte...
E a amizade? Será que um dia voltará ao que já foi?
Será que um dia voltaremos a comunicar sem serem precisas palavras?
Espero que sim.
Até lá vou esperando...
Beijo *
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