quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Delete por favor...


Porque é que não é possível fazermos simplesmente delete em algumas recordações?

Facilitava tanto a nossa vida! Se o nosso fantástico cérebro é capaz de apagar algumas lembraças passadas, ou melhor, é capaz de as esconder bem no fundo do nosso baú... Porque raio não é possível apagar outras de vez?

Pior do que isto é passar o tempo a tentar acreditar que tudo já passou. Há dias em que isso me parece ser possível! Mas quando estou quase quase crente nisso... PUMBAS! Voltam-se as recordações, voltam as saudades e enfim...

Quando for grande quero ter esse poder. Quero controlar o meu próprio cérebro. Deve ser possível, não? Podemos controlar tanta coisa, muitas delas nem são nossas, qual é a dificuldade de controlar algo tão simples (ou complexo) como a nossa "massa cinzenta"?


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sábado, 4 de setembro de 2010

"A Luz de Um Novo Dia"

Durante estas férias dediquei-me à leitura.
Escusado será dizer que todas as leituras feitas estavam relacionadas com a "minha área", a educação (crianças). Não por "obrigação", mas porque são os livros que me chamam mais à atenção. Gosto de histórias verídicas e de tomar consciência de determinadas ocorrências, nem que seja na teoria. Em contrapartida não sou grande fã de romances ou mesmo de fantasia.
Pois bem, devo dizer que depois de ter lido o bestseller "A Criança Que Não Queria Falar" de Torey Hayden, continuei em busca de obras suas referentes ao ensino especial.
Para quem não conhece Torey é formada em ensino especial, psicologia da educação, biologia química, entre outros. Esta professora revela, nos seus livros, como se envolve com as crianças com NEE que são integradas nas suas turmas "especiais" ou na clínica onde trabalhou.
O último livro de Torey Hayden que li intitula-se "A Luz de Um Novo Dia". Sem dúvida que este é um dos livros de que mais gostei da autora. Nesta obra, houve um diálogo, entre as crianças, que me chamou, em especial, a atenção. Como tal vou partilhar convosco o referente excerto.
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"(...)
Billy parou de novo, olhou para Jesse e depois para outros.
- Sabem uma coisa? - disse, para ninguém em especial. - Dantes não gostava de miúdos pretos. Antes de vir para esta turma. Porque na escola do meu irmão há uns pretos que estão sempre a bater em toda a gente. Uma vez bateram-me e o meu irmão diz que é por serem pretos.
- Pois, bem, é estúpido pensar assim - retorquiu Jesse. - Não é a tua cor que vai dizer se vais bater nas pessoas.
Billy assentiu. - Pois, eu sei, já percebi. Estava só a dizer como era dantes.
Fez-se outra pausa. Billy observava Jesse a trabalhar.
- Tu e eu somos amigos, né?
Jesse encolheu os ombros.
- Foi isso que disse ao meu irmão. Disse-lhe isso uma noite destas. Disse-lhe que conhecia um miúdo preto na escola e que era meu amigo e que ele não fosse coisas más sobre miúdos pretos ou eu dava-lhe - prosseguiu Billy. - É isso que eu faço quando insultam os meus amigos.
Jesse acenou com a cabeça ao de leve.
- Pois, tu também és meu amigo. Já disse à minha avó.
Uma pausa.
- E ela disse «Tu não tens amigos» - continuou Jesse. - Ela disse «é por teres Tourette e é por isso que és assim. E não consegues arranjar amigos».
- Isso não é verdade - declarou Billy. - Isso é o mesmo que ter preconceitos, não é, professora? É como dizer que não tens amigos por seres preto. Era disso que eu estava a falar. Era isso que eu queria dizer. Dantes, antes de conhecer o Jesse, achava que não podia ser amigo dele por ele ser preto. Mas agora, quando olho para ele, não penso que ele é preto. E é a mesma coisa com a Tourette. É que, quando não te conhecia, Jesse, pensava que os teus tiques eram esquisitos, mas agora não os vejo. Se conhecermos as pessoas, não vemos que são diferentes. Só vemos como somos parecidos. Né, professora?
- Foi isso que eu disse à minha avó - retorquiu Jesse. - Disse-lhe que na minha turma tinha amigos.
(...)"
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Excerto retirado de:
Hayden, T. (2010). A Luz de Um Novo dia. Lisboa: Editorial Presença
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Como já referi, este "pequeno" diálogo chamou-me à atenção, não só, pela noção de "Racismo" que estas crianças possuem, mas também pela "lição" que daqui podemos retirar.
Por vezes os adultos não conseguem ver aquilo que as crianças vêem. Coisas tão simples como a indiferença que a cor da pele tem numa relação de amizade (ou outra).
Não são só as crianças que aprendem algo de novo todos os dias, os adultos também. É "engraçado" verificar que há muitas aprendizagens do "mundo adulto" que são "adquiridas" através das crianças...
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